Transformação Através do Perdão: De Lixo Emocional a Frutos de Paz
Era uma vez um homem que, ao longo da sua vida, foi acumulando sacos de lixo emocional. Cada pedaço representava uma mágoa, um ressentimento, uma injustiça. Sem se dar conta, ele guardava esses pedaços, acreditando que, ao colocá-los em sacos, estaria a esquecê-los, mas, na verdade, esse “for-get” (para guardar) apenas os mantinha presos a si, como um peso constante que o acompanhava.
Certo dia, ao cruzar-se com um velho sábio que cultivava uma horta, o homem, exausto, desabafou, revelando o conteúdo dos sacos. O sábio ouviu pacientemente e depois apontou para um monte de composto ao lado da horta.
• Vejo que tentaste “esquecer” as tuas dores, guardando-as – disse o sábio –, mas esqueceres não significa libertares-te. Esses pedaços, ao serem apenas guardados, tornaram-se um fardo. E se, em vez de “for-get”, experimentasses “for-give” (para dar, perdoar)? Ao dar, ao libertar-te, podes permitir que essas experiências, antes dolorosas, se transformem.
O homem, intrigado, observou o monte de composto e o sábio continuou:
• Esse composto é feito de restos, resíduos que em vez de serem rejeitados, foram transformados em nutrientes para a terra. E agora, ao invés de um peso inútil, alimentam a vida. Podes fazer o mesmo com o teu passado: liberta-o para que ele se transforme e se torne o fertilizante do teu terreno interior.
Com um novo entendimento, o homem começou a despejar o conteúdo dos sacos no monte de composto. À medida que cada pedaço de dor e ressentimento se misturava com a terra, ele sentia-se mais leve, sentindo que o seu passado, antes carregado, se estava a transformar em algo útil.
Depois que todo o lixo foi convertido em composto, o sábio entregou-lhe um punhado de sementes.
• Agora que o teu terreno interior está rico com o que antes te doía e te pesava, podes semear estas sementes. Cuida delas e verás como o teu passado, transformado, pode dar origem a algo que te traga conforto e alegria.
O homem, emocionado, lançou as sementes naquele solo interior enriquecido com as suas próprias dores transformadas. Dia após dia, cuidou das plantas que nasciam, regando-as, cuidando delas, observando o crescimento lento, mas constante. O tempo passou, e o homem viu, finalmente, os primeiros frutos a despontarem.
Certo dia, ao colher os frutos, percebeu que eles tinham um sabor especial, como se cada um fosse o pagamento da terra por tudo o que ela sentiu ao ser trabalhada e transformada. Os frutos eram doces, nutritivos e traziam-lhe uma paz profunda, um consolo que nunca imaginara. Era como se a terra lhe devolvesse, em forma de frutos, todo o sofrimento que ele antes carregara, agora transformado em conforto e satisfação.
O sábio, ao ver o homem colher os frutos, disse com um sorriso:
• O perdão é mais do que libertar, é transformar. Aquilo que antes te fez sofrer agora alimenta a tua vida, dando-te algo que nunca imaginaste que pudesse vir de onde outrora só havia dor. Não é “for-get” (esquecer) , mas “for-give” (perdoar), um presente que deixaste no teu terreno interior e que agora te recompensa.
O homem, com o coração leve e a alma bem nutrida, entendeu que o seu passado, uma vez transformado, era a base de um presente fértil e de um futuro promissor. Cada fruto colhido era um testemunho da sua capacidade de crescimento, um consolo que provinha do ciclo natural de dar e receber, de transformar dor em vida, e de aceitar que até o sofrimento pode, um dia, florescer.
Celso Oliveira, Nov/2024