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O casaco esquecido

O casaco esquecido
Maio 15, 2025Blog

“O Casaco Esquecido”

Ela chegou tarde à estação, como quem já sabe que o comboio não espera quem hesita.
O comboio ia longe, mas o banco de madeira ainda guardava o calor de despedidas não ditas.
E nas mãos, ela trazia o casaco dele — azul-escuro, gasto nos cotovelos, com o cheiro morno de dias melhores.

Tinha-o deixado pendurado atrás da porta na última vez que estiveram juntos.
Discutiram, sim. Mas já vinham a desfiar-se antes disso — como um tecido puxado por um fio invisível que ninguém quis parar de puxar.

Sentou-se.
Olhou para o casaco como quem procura nas costuras uma resposta.
Dobrou-o devagar. Dobrar um casaco era mais fácil do que dobrar a culpa.

“Se eu tivesse falado menos.”
“Se eu tivesse escutado mais.”
“Se o tivesse querido com o corpo inteiro — e não só com a cabeça.”

Porque ele queixava-se.
Não da ausência de afeto — havia abraços, sim, até ternura.
Mas faltava-lhe o desejo dela. O corpo dela que já não procurava, que se retraía com um cansaço que ele não compreendia.

“Sinto que não me queres.”
Dizia-lhe ele, numa voz que era já mais suspiro do que raiva.

E ela não sabia o que dizer. Porque não era desamor — era uma espécie de exílio interno.
Um afastamento que ela também não compreendia bem.
Como se o corpo tivesse fechado janelas sem avisar.

Talvez a traição estivesse aí — não em corpos de outros, mas na ausência de entrega entre eles.
Ou talvez nenhum dos dois tivesse traído.
Apenas se perderam nos dias iguais, nas rotinas que secam o desejo, nas palavras por dizer que criam muros de silêncio entre lençóis.

E, no entanto, ela carregava a culpa.
Como um casaco fora de estação — pesado, quente demais, mas impossível de largar.

Levantou-se.
Olhou mais uma vez para o casaco.
Depois, pousou-o no banco.
Como quem devolve ao mundo aquilo que já não sabe como guardar.

Foi embora.
Não com leveza — ainda não.
Mas com a certeza de que o caminho para a paz começa quando deixamos de confundir culpa com responsabilidade.

E que, às vezes, o que parte
não é só o outro.
É a parte de nós que deixou de tocar — ou de se deixar tocar

Celso Oliveira

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