A Cadeira Vazia


“A Cadeira Vazia”
Na sala de Sofia havia uma cadeira onde ninguém mais se sentava.
Não era proibido, mas todos pareciam respeitar aquele silêncio feito de ausência.
A cadeira era do avô. Ou fora. Agora era do tempo.
Ele partira há seis meses.
Sem alarme, sem dramatismo.
Um desmaio, um hospital, um fim discreto — como quem não quer incomodar.
Mas o estranho não era a dor da perda.
Era a ausência de dor.
Sofia esperava lágrimas, revolta, noites mal dormidas.
Mas não veio nada disso.
Veio um silêncio espesso. Um vácuo sem nome.
Uma culpa disfarçada: “Será que o amava menos do que devia?”
“Sou ingrata por não sofrer como esperava?”
Continuou a vida — trabalho, supermercado, cafés com amigos.
Mas, ao chegar a casa, olhava sempre a cadeira.
E era ali que o luto se sentava.
Foi numa sessão de terapia que disse em voz baixa:
“Sinto que não tive o direito de sofrer, porque o mundo não parou.”
E, ao dizê-lo, os olhos dela encheram-se.
Não com o choro pelo avô — mas com o choro de finalmente poder chorar.
Porque há lutos que não gritam.
Há lutos que vivem nas rotinas intactas, nos gestos repetidos, nas frases que ninguém ousa terminar.
Há perdas que não pedem lamentos — pedem espaço.
Sofia não moveu a cadeira.
Mas começou a deixá-la mais iluminada.
Como quem aceita que o luto nem sempre chega com lágrimas —
às vezes, chega com silêncio, e só precisa de ser escutado.
Celso Oliveira