Ansiedade
Vamos começar com uma explicação gráfica simples da ansiedade. Primeiro, considere o conceito de medo, que deve ser diferenciado da ansiedade. Se você estivesse sentado numa sala e de repente uma cascavel grande se arrastasse pela porta, teria boas razões para ter medo. Esse é o medo, porque se refere a uma ameaça real. O medo, em alguns casos, pode ser saudável, porque geralmente mantém-nos vivos.
Mas se você está sempre preocupado com o medo de uma cascavel poder entrar na sala, mesmo que não haja cascavéis à vista, isso é ansiedade. A ansiedade geralmente não ajuda, porque a ameaça é imaginária e pode-se desperdiçar muito tempo e energia preocupando-se com coisas que podem acontecer – mas não têm necessariamente de acontecer.
A base psicológica da ansiedade pode em geral ser localizada em experiências infantis que foram mal compreendidas ou mal explicadas, sem orientações claras da parte dos pais que tendem a ser desinteressados, críticos ou abusivos. Então, as crianças podem passar a ter pavor de circunstâncias que apresentam aspetos desconhecidos ou imprevisíveis.
Algumas pessoas vivem com um sentimento constante e geral de preocupação e ansiedade, como acontece no Transtorno de Ansiedade Generalizada. Os sintomas típicos deste transtorno são tensão, inquietação, fadiga, irritabilidade, distúrbios do sono e dificuldade de concentração.
Outras pessoas sentem uma ansiedade mais focada, como no caso de um ataque de pânico, onde o coração bate cada vez mais rápido e há um súbito ataque de apreensão, terror ou destruição iminente, a tal ponto que a pessoa pode sentir que está a ficar louca – ou a ter um ataque cardíaco. Na verdade, é muito comum que alguns pacientes apareçam nas salas de emergência de um hospital a dizerem que estão a ter um ataque cardíaco quando estão na realidade a enfrentar um ataque de pânico.
Por outro lado, algumas pessoas têm tanta ansiedade que desenvolvem agorafobia ou fobia social.
- A agorafobia, às vezes chamada de medo de espaços abertos, é realmente mais um medo do próprio medo. Ou seja, a pessoa com agorafobia tende a evitar situações que podem causar medo – e, eventualmente, são evitadas tantas situações que a nem consegue sair de casa. Uma consequência comum da agorafobia é a depressão e os sintomas associados comuns são o uso de drogas ou álcool, funcionando como se fosse uma “automedicação”.
- A fobia social envolve um medo persistente de situações que podem envolver o escrutínio ou a observação de outras pessoas. Fobias sociais comuns são o medo de falar em público, participar de reuniões, usar casas de banho públicas, comer na frente de outras pessoas, interagir com estranhos e interagir com figuras de autoridade. Tenha em atenção que o medo de interagir com figuras de autoridade (como, por exemplo, psicólogos ou psiquiatras) pode tornar muito difícil procurar tratamento para uma fobia social.
Fobias específicas também são uma forma de ansiedade (embora às vezes sejam misturadas e/ou confundidas com medo). Existem muitos tipos de fobias específicas, incluindo a ansiedade em lidar com animais, enfrentar eventos naturais, lidar com sangue ou ferimentos, estar em locais vários (como elevadores, túneis, alturas, voos de avião, etc.) ou enfrentar germes e doenças.
Todas as fobias específicas têm três elementos básicos:
- Medo excessivo causado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação específica.
- A exposição ao objeto ou situação provoca uma resposta imediata à ansiedade.
- O objeto ou situação é evitado (ou tolerado com intenso sofrimento).
Então, como a ansiedade vai e vem conforme a situação, seria possível, por exemplo, ter uma fobia de encontrar pessoas cegas, mas seria impossível ter uma fobia de ficar cego. Uma pessoa pode desenvolver uma fobia a objetos ou situações específicas que podem causar cegueira, mas um medo geral de “ferir o seu próprio corpo” não seria um distúrbio psiquiátrico; uma situação dessas seria mais depressa considerada, psicanaliticamente, uma forma de “ansiedade de castração”.
A Base Psicológica das Fobias
Do ponto de vista psicológico, muitas fobias podem derivar de conflitos e terror acerca da realidade interior e sombria da própria pessoa.
Por exemplo, num caso conhecido, um homem tinha medo de alturas. A sua vida tendia a seguir a normalidade social e ele evitava correr qualquer risco para melhorar e ser criativo. Daí o seu medo de alturas: ele tinha medo de “se elevar acima de si próprio”.
Num outro caso, um homem tinha medo de atravessar pontes e túneis. Ele passou toda a sua vida a preparar-se para uma carreira no desporto e, de repente, teve uma lesão que acabou com os seus sonhos com a vida que ele queria ter. No entanto, ele não sabia o que fazer com a sua vida depois disso. Ele sentiu como se estivesse no escuro, sem saber para onde estava a ir e tinha medo de fazer quaisquer mudanças. Daí o seu medo de “túneis escuros” e de “atravessar pontes”.
No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a ansiedade assume a forma de obsessões ou compulsões.
- Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são experimentados como intrusivos ou inapropriados.
- Compulsões são comportamentos repetitivos (por exemplo, lavagem das mãos) ou atitudes mentais (por exemplo, palavras repetidas) que uma pessoa se sente levada a executar como resposta a uma obsessão. Esses comportamentos ou atitudes mentais destinam-se a evitar danos e, dessa maneira, procuram prevenir ou reduzir a ansiedade ou a angústia, ou impedir algum evento temido.
Compulsões não devem ser confundidas com outros distúrbios do controle de impulsos, em que uma pessoa falha em resistir a uma tentação. De certa forma, essa distinção feita pelo DSM-IV pode parecer confusa. Note-se que o DSM-V esclareceu isso. [1]. A verdade é que um Transtorno de Controle de Impulsos apenas pode ser diagnosticado se a falta de controle de impulso ocorrer fora de qualquer outro distúrbio. Nesse sentido,
- O Transtorno Explosivo Intermitente é caracterizado por episódios discretos de falha em resistir a impulsos agressivos, como acontece em casos de ataques graves (muitas vezes em quadros de violência doméstica) ou em situações de destruição de propriedade;
- A Cleptomania é caracterizada por falha recorrente em resistir a impulsos para roubar objetos não necessários para uso pessoal ou com valor monetário;
- A Piromania é caracterizada por um padrão de causar fogo para sentir prazer ou alívio da tensão;
- O Jogo Patológico é caracterizado por um comportamento inadaptado de jogo recorrente e persistente;
- A Tricotilomania é caracterizada por um comportamento recorrente de arrancar ou puxar os cabelos.
A dinâmica subjacente ao comportamento obsessivo-compulsivo é em geral a tentativa inconsciente de neutralizar sentimentos de culpa que derivam de experiências ocultas de raiva e que são percebidas pela pessoa afetada como censuráveis e vergonhosas. (Pelo contrário, um distúrbio do controle dos impulsos envolve geralmente atos flagrantes de hostilidade, destrutividade, perigo ou risco.)
A esse respeito, a pesquisa psicológica sobre o desenvolvimento infantil mostrou que experiências de raiva e sentimentos subsequentes de culpa acontecem a todos desde a primeira infância. Todos os pais cometerão erros no vínculo empático com uma criança, e toda a criança acabará por sentir-se emocionalmente magoada por esses erros e almejará a satisfação da vingança: ferir o outro “como eu fui ferido”.
Esses impulsos para machucar os outros são universalmente humanos e não significam que alguém que os experimente seja “mau”. Como adultos, qualquer pessoa, mesmo aqueles de quem gostamos e até bebés inocentes, nos pode irritar. Assim sendo, nós experimentamos pensamentos de ressentimento, hostilidade ou violência, porque nos sentimos feridos, insultados, obstruídos ou magoados de alguma maneira emocional, física ou material. O TOC, no entanto, é uma maneira neurótica de lidar com sentimentos de culpa que parecem “maus” demais para admitir a alguém, nem mesmo a si próprio.
A solução para tudo isso é incrivelmente simples (e é realmente uma forma de tratamento cognitivo-comportamental): admita abertamente esses pensamentos assustadores, em vez de tentar negá-los; então diga a si mesmo que, mesmo que uma parte de si os considere satisfatórios, você não tem nenhuma intenção de realmente executar nenhum desses impulsos; e, por isso, resolva agir com bondade e perdão. Lembre-se de que o facto de você poder ter impulsos “maus” isso não significa que você é “mau”.
Mas se você tentar esconder os seus pensamentos e impulsos assustadores, eles acabarão por chegar até ao seu lado não consciente, onde se transformarão em raiva inconsciente. Portanto, há em tudo isso uma ironia: se você admitir esses pensamentos assustadores para si mesmo e lidar com eles com graciosidade, é uma prova de que você ama os outros, mas, pelo contrário, se você tentar esconder esses pensamentos e impulsos com medo deles, eles acabarão por levá-lo à raiva, e é essa raiva inconsciente que prejudica os outros e faz com que você se sinta tão culpado.
O TOC não deve ser confundido com “Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva”, que se caracteriza por um padrão generalizado de preocupação com a ordem, o perfeccionismo e o controle mental e interpessoal. Essa personalidade pode ser inflexível, rígida, teimosa e avarenta.
A dinâmica subjacente à ordem excessiva é em geral o desejo inconsciente de que se faça justiça pelos crimes cometidos contra si. Então, você não pode tolerar nada desordenado ou fora do lugar, porque o desejo de “lei e ordem” preocupa a sua mente no contexto da mágoa emocional não resolvida na infância.
A ansiedade também pode ser a base para transtornos mentais que ocorrem após a exposição a um evento traumático, como abuso, acidente, crime, desastre natural, etc., situações que envolvem morte ou ferimentos graves, sejam reais ou apenas ameaçadoras na sua imaginação. Se os sintomas persistirem por vários dias e causarem um comprometimento grave no funcionamento diário normal, podemos considerar um diagnóstico de Transtorno de Stresse Agudo.
O Transtorno de Stresse Pós-Traumático (TEPT) pode ser diagnosticado se os sintomas persistirem por mais de um mês e se enquadrarem nas seguintes categorias de características:
- Excitação anormal (por exemplo, dificuldade em dormir, irritabilidade)
- Evitamento / “Numbing” (“afastamento”, evitando situações associadas ao trauma)
Por outro lado, o trauma pode afetar o sentimento de identidade e o trauma de abuso infantil grave pode levar ao desenvolvimento de múltiplas personalidades (perturbação dissociativa de identidade) ou de comportamentos auto-mutilantes ou auto-punitivos. Por fim, você pode querer saber algo sobre a controvérsia em torno do conceito de memórias reprimidas de trauma e pode estar interessado em alguns grupos de apoio ao trauma que têm sites na Internet.
(Tradução/adaptação de Celso Oliveira a partir de “A Guide to Psychology and Its Practice”, in http://www.guidetopsychology.com/)