Depressão e Mania
A maioria das pessoas experimenta repetidamente períodos de depressão ao longo da sua vida. Todos nós temos dias em que nos sentimos “tristes” ou “em baixo” e esses tempos angustiantes acabam geralmente por passar. Por outro lado, a morte de alguém próximo pode também provocar sentimentos, designados por sentimentos de perda ou luto, muito semelhantes aos sintomas da depressão.
O Transtorno Depressivo Maior é outra coisa, e em regra requer tratamento psicológico. A característica deste distúrbio é a existência de pelo menos um Episódio Depressivo Maior (veja mais abaixo). Embora a maioria dos episódios de Depressão Maior (depressão unipolar) se resolva habitualmente em cerca de seis meses, mesmo sem tratamento, esses seis meses podem ser bastante difíceis, em que a vida profissional e familiar pode ser seriamente prejudicada e onde há geralmente um alto risco de suicídio.
Embora um Episódio Depressivo Maior possa ser tratado psicologicamente sem medicação, há situações em que a medicação pode ser especialmente útil e necessária. Se o seu psicólogo acredita que a medicação pode ser útil como coadjuvante da psicoterapia, ele (ou ela) deverá discutir o assunto consigo e talvez faça até uma referenciação ou encaminhamento para um médico (geralmente um psiquiatra) que lhe possa fazer uma avaliação e prescrição farmacológica.
Como em qualquer outra queixa psicológica, é aconselhável que o tratamento psicológico para a depressão não comece sem que você tenha realizado um exame médico completo e um exame de sangue para descartar possíveis causas médicas da depressão. Por exemplo, a depressão pode ser causada por níveis elevados de TSH (hormona estimuladora da tiroide) resultantes de um distúrbio de hipotiroidismo. Deficiências vitamínicas (como a falta de vitamina D3, por exemplo) podem também contribuir para a depressão.
A boa notícia é que os medicamentos psiquiátricos para a depressão, se forem necessários, podem frequentemente ser descontinuados (seguindo o conselho do médico prescritor, obviamente) após algum tempo, quando o estilo de vida muda (com atividade física apropriada; gestão de pensamentos negativos; redução de cafeína; controle do stresse e técnicas de controle da raiva) mudanças que podem ser incorporadas através da psicoterapia ao mesmo tempo em que estiver a tomar medicação.
Um Episódio Depressivo Maior apresenta os seguintes sintomas característicos:
- Humor deprimido. Note, no entanto, que as crianças e adolescentes tendem a mostrar sinais de irritabilidade em vez de humor deprimido.
- Anedonia; ou seja, falta de interesse em coisas geralmente agradáveis
- Perda de peso ou perda de apetite (embora alguns indivíduos comam demais por causa da depressão)
- Problemas para dormir
- Alterações psicomotoras
- Lentidão (por exemplo, na fala, no pensamento ou movimentos lentos em geral)
- Agitação (por exemplo, incapacidade de ficar parado; andar a passo)
- Fadiga ou falta de energia (por exemplo, ficar na cama a maior parte do dia)
- Sentimentos de extrema inutilidade ou de culpa
- Problemas de concentração
- Pensamentos sobre a morte ou sentimento/ideação de suicídio
Depressão exógena é um termo que descreve a depressão desencadeada por perdas e problemas sociais externos evidentes. Depressão endógena é um termo que descreve a depressão que parece ocorrer por “nenhuma razão aparente” e, por isso, é comumente considerada genética e química por natureza, mas a verdade, na nossa opinião, é que todo o sintoma pode ter uma causa inconsciente (não consciente), embora as pessoas sem formação em “psicologia do inconsciente” não sejam capazes de reconhecer “causas inconscientes”.
O Transtorno Distímico é uma forma de depressão, menos grave que a Depressão Maior, na qual uma pessoa se sente deprimida a maior parte do tempo, mas ainda é capaz de funcionar social e ocupacionalmente. Um Transtorno Distímico em geral não requer medicação, mas está a ficar muito na moda, infelizmente, tomar os novos medicamentos SSRI (como o Prozac, Zoloft, Paxil etc.) de qualquer maneira. Embora possa haver um aspeto biológico em qualquer forma de depressão, a causa psicológica de um distúrbio distímico, em geral, tem as suas raízes em emoções não expressas e relacionadas com situações sociais. Muitas pessoas, no entanto, não conseguem sequer identificar as suas próprias emoções e, por isso, pode ser necessária a psicoterapia, em primeiro lugar para que a pessoa possa aprender a reconhecer as suas experiências interiores e, depois, possa aprender a expressá-las de maneira aberta e apropriada.
Um Transtorno Distímico tem os seguintes sintomas característicos:
- Humor deprimido durante a maior parte do dia, sendo mais os dias em que está presente do que os dias em que não. Note, no entanto, que as crianças e adolescentes tendem a mostrar mais sinais de irritabilidade do que humor deprimido.
- Pouco apetite; ou comer demais
- Insónia; ou hipersónia (dormir demais)
- Baixa energia ou fadiga
- Baixa autoestima
- Má concentração ou dificuldade em tomar decisões
- Sentimentos de desesperança
“Depressão Dupla” refere-se a um Episódio Depressivo Maior sobreposto ao Transtorno Distímico. Por isso, mesmo que uma pessoa se possa recuperar dos efeitos graves da Depressão Maior, ela raramente se poderá sentir “não deprimida”.
“Depressão Pós-Parto” é um termo popular às vezes usado, mas, na verdade, não aparece no DSM qualquer transtorno com esse nome. No entanto, a expressão “Com início pós-parto” pode ser usada como um especificador para qualquer um dos transtornos depressivos ou maníacos. No entanto, a ideia de depressão pós-parto merece alguma atenção. “Pós-partum” refere-se ao parto e ao nascimento e muitas vezes acontece que uma mulher se vai sentir deprimida logo após o parto. E aqui as coisas podem ficar complicadas.
Por um lado, o papel da mulher no trabalho de parto pode afetar significativamente o seu estado emocional após o parto. Se uma mulher sentir um baixo nível de apoio da família ou da equipa do hospital, se existirem alguns elementos de culpa envolvidos na gravidez (especialmente se a gravidez não foi desejada ou não foi planeada), ou se ela sentir falta de controle ou níveis elevados de medo em relação ao seu próprio bem-estar durante o trabalho de parto, ela pode experimentar alguns dos sintomas (incluindo depressão e ansiedade) característicos do Transtorno de Stresse Pós-Traumático (TEPT).
Por outro lado, a “depressão pós-parto” não precisa ser uma depressão clínica e nem precisa estar associada ao parto. Na verdade, muitos eventos da vida, quando completados com sucesso, podem trazer uma sensação de “depressão” temporária…
O Transtorno Bipolar pode assumir várias formas. O Transtorno Bipolar I liga-se à história de pelo menos um Episódio Maníaco (veja abaixo) com várias variações em relação ao episódio mais recente, que pode ser Maníaco, Depressivo, Misto ou Hipomaníaco. O Transtorno Bipolar II liga-se à presença (ou história) de um Episódio Hipomaníaco (veja abaixo) e à presença (ou história) de um Episódio Depressivo (veja acima). O antigo termo diagnóstico designado por Transtorno Maníaco-Depressivo já não é usado no DSM-IV; este termo referia-se à presença clínica de mania e depressão, não as duas ao mesmo tempo, é claro; em geral, a depressão segue a mania.
Alguns dos aspetos seguintes podem ajudar a distinguir a depressão bipolar da depressão unipolar:
- História de tratamento resistente a antidepressivos
- História familiar de transtorno bipolar
- Sintomas psicóticos
- Sintomas como hipersónia (sono excessivo), fadiga extrema e aumento do apetite
Um Episódio Maníaco refere-se a um período de humor elevado e expansivo, com duração de cerca de uma semana.
Um Episódio Hipomaníaco refere-se a um período de humor elevado e expansivo, com duração menor do que um episódio maníaco, mas que pode levar a um episódio maníaco intenso de grande dimensão, delírios, perda de controle e dificuldade de julgamento. Ambos apresentam alguns dos seguintes aspectos:
- Autoestima exagerada ou mania de grandiosidade
- Diminuição das necessidades de sono
- Mais falador do que o habitual ou pressão para continuar a falar
- Menos tímido ou menos inibido
- Extremamente otimista
- Sentimentos emergentes de luxúria
- Ideias dispersas ou experiência subjetiva que os pensamentos estão a correr
- Distração
- Irritabilidade e impaciência
- Aumento da atividade focada em objetivos específicos ou grande agitação psicomotora
- Gastar muito dinheiro
O Transtorno Ciclotímico está para o Transtorno Bipolar como o Transtorno Distímico está para o Transtorno Depressivo Maior; isto é, é um transtorno de natureza semelhante, mas muito menos grave. Envolve muitos períodos de sintomas depressivos alternados com episódios hipomaníacos (veja acima). O tratamento mais comum (ou seja, para lá da psicoterapia intensiva) para um transtorno ciclotímico, como acontece num transtorno bipolar, é frequentemente a utilização de um medicamento para estabilizar o humor.
(Tradução/adaptação de Celso Oliveira a partir de “A Guide to Psychology and Its Practice”, in http://www.guidetopsychology.com/)