DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: O QUE OS PAIS PRECISAM SABER.
Você já parou para pensar como conseguimos aprender? Cada um de nós tem a sua forma própria de aprender: uns aprendem rápido e impressionam pela “facilidade” com que aproveitam as suas experiências para responder aos mais diversos problemas do quotidiano. Outros precisam “esforçar-se” mais. Então, de onde vêm essas diferenças individuais?
Atualmente fala-se cada vez mais em dificuldades de aprendizagem e em Portugal poderemos ter cerca de 5 a 10% dos alunos com dificuldades específicas, o que representa cerca de 75000 alunos, dos quais 2/3 são rapazes, de acordo com as estatísticas conhecidas.
MAS, AFINAL O QUE SE ENTENDE POR DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM?
“Dificuldade de Aprendizagem” é um conceito utilizado para descrever uma série de problemas de aprendizagem relacionados com a forma como o cérebro absorve, usa, armazena e envia informações. Cerca de 5 a 10% das crianças possuem essa condição e elas podem ter dificuldade com uma ou mais das seguintes habilidades: leitura, escrita, audição, fala, raciocínio e matemática. O tipo mais comum, é a dificuldade para ler.
Considera-se que uma criança não tem Dificuldade de Aprendizagem se as complicações se devem a outras causas, como TDAH, deficiência intelectual ou um problema de visão, audição ou motor. É importante entender que algumas crianças podem ter a Dificuldade de Aprendizagem e outras condições que podem afetar a assimilação das habilidades ou até mesmo mais de um tipo de Dificuldade de Aprendizagem.
Simplificando, a forma de aprender dependerá tanto das habilidades que nasceram com a pessoa, como das habilidades que precisaram ser ensinadas, fazendo com que a a educação na cultura e nas oportunidades de ensino sejam fundamentais para a aprendizagem. O acolhimento e o apoio emocional dos pais/educadores nos primeiros anos de vida também são fundamentais.
Quanto mais a curiosidade de cada um é incentivada, melhor!
Um conhecimento é mais bem aproveitado quando o educador é capaz de maximizar as capacidades individuais: se uma tarefa é absurdamente difícil, o educando pode sentir-se incapaz e desistir. Se uma tarefa é absurdamente fácil, ele também pode não se sentir motivado para se esforçar mais e mais.
Uma tarefa que desafie o potencial do educando, o pôr em prática o “meio termo”, seria o mais indicado. Tendo sempre em conta que esse “meio termo” pode se diferente para cada um. Por isso, torna-se um verdadeiro desafio trabalhar com grupos em que os educandos têm um potencial cognitivo e um nível de motivação pessoal heterogéneo.
Uma educação desafiante, alinhada num nível intermédio, vai talvez resultar para a maioria, mas vai ser muito mais fácil para quem tem habilidades cognitivas elevadas e muito mais difícil para quem tem dificuldades relacionadas com problemas do neurodesenvolvimento, o que vai impactar na motivação e na autoeficácia.
Sendo assim, se as mesmas oportunidades de educação são oferecidas para um grupo de estudantes, aqueles com o menor desempenho serão identificados como tendo dificuldade de aprendizagem. Já os que têm uma dificuldade muito acentuada e que persiste ao longo do desenvolvimento, apesar de inúmeros esforços para que tenham um desempenho mais próximo do esperado para a sua idade, escolaridade e aparente capacidade cognitiva geral, são os que provavelmente apresentam um transtorno de aprendizagem.
Para além da capacidade cognitiva e das oportunidades de aprendizagem, a motivação individual tem extrema importância para influenciar a forma de aprender. Se uma tarefa é muito complexa, muito longa, pouco clara quanto aos seus objetivos e o educando não a compreende, num curto espaço de tempo, a sua utilidade, torna-se difícil para ele interessar-se, motivar-se e aprender. Muitas vezes, o aluno esforça-se para melhorar o seu desempenho mais pelo medo de tirar notas baixas (e das retaliações que isso possa implicar) do que pela vontade de aprender. O reconhecimento de pequenos avanços e a recompensa são fundamental para que a pessoa continue a impor a si própria esse esforço para aprender. Proporcionar a cada estudante uma estratégia individual mais adequada para o seu modo particular de aprender pode impliucar mais esforço, mas vale a pena para todos.
Um transtorno de aprendizagem pode ser específico, fazendo com que o estudante tenha apenas dificuldades em alguns aspetos particulares do seu desenvolvimento. Algumas crianças demonstram dificuldades específicas de leitura e bons resultados em matemática ou vice-versa. Por isso, falamos aqui de transtornos específicos de aprendizagem.
Dentro dos transtornos específicos de aprendizagem destacamos as seguintes:
- Dislexia: caracteriza-se por dificuldades no processamento fonológico com repercussões na aprendizagem da leitura, apesar da capacidade cognitiva preservada.
- Disortografia: caracteriza-se por défices nas aptidões da escrita, que se traduz na dificuldade em compor textos escritos e na presença de múltiplos erros ortográficos.
- Disgrafia: caracteriza-se por problemas funcionais no ato motor da escrita (e.g. caligrafia irregular, dificuldades na motricidade fina).
- Discalculia: caracteriza-se por um comprometimento significativo das competências aritméticas, apesar de um adequado funcionamento intelectual.
Estes transtornos específicos estão dentro de um grupo mais geral, chamado transtornos do neurodesenvolvimento.
Eles são do neurodesenvolvimento porque desde muito cedo afetam a capacidade da criança ter um desempenho semelhante ao de outras crianças em diversas áreas do quotidiano. Entre os transtornos que causam prejuízos mais globais estão o transtorno de deficit de atenção/hiperatividade, os transtornos do espectro autista e as deficiências intelectuais.
É importante não esquecer que as crianças aprendem melhor quando são instruídas diretamente sobre o que aprendem e quando as expetativas e as regras são simples e claras. Métodos que focam muito a intuição para a aprendizagem podem atrapalhar, principalmente as crianças com transtornos do neurodesenvolvimento. Essas crianças têm dificuldade para construir e organizar o seu próprio conhecimento em resposta aos estímulos externos e às suas experiências.
10 em cada 100 pessoas em todo o mundo têm ou tiveram transtorno específico de aprendizagem.
Os transtornos específicos de aprendizagem são bastante complexos na sua origem e, por isso, basta saber que algumas crianças nascem com uma sensibilidade maior aos acontecimentos do dia a dia.
Essa combinação entre vulnerabilidade genética e ambiente pode levar a pequenas alterações no cérebro da criança, ficando, assim, muito mais difícil para ela conseguir aprender conteúdos específicos. É importante dizer que essa dificuldade, por ser específica, não se deve meramente a uma educação inadequada.
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO
Reveste-se de especial relevância clarificar e desmistificar o conceito de dificuldades específicas de aprendizagem para que pais, professores, técnicos e as próprias crianças compreendam verdadeiramente as suas origens e efeitos.
É fundamental termos consciência que estas crianças e jovens se sentem incompreendidas e frustradas. Apesar do seu bom desenvolvimento intelectual, podem existir áreas de aprendizagem que são árduas e desmotivantes para eles, acabando por afetar a sua autoestima e as suas relações com os colegas.
Em Psicologia, é possível realizar uma avaliação cognitiva, que permite despistar entre dificuldades de aprendizagem específicas e problemas comuns com a aprendizagem, bem como avaliar a necessidade de intervenção e apoio de diferentes valências (Psicologia, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional, Neurofeedback, etc), já que estas dificuldades, dependendo da categoria em que estão inseridas, podem necessitar de intervenção de diferentes áreas clínicas.
Sendo essa intervenção não só dirigida às dificuldades específicas manifestadas, como também às alterações emocionais e sociais que estas possam provocar.
Se pensa que o seu filho pode estar a sentir estas dificuldades, nós acreditamos que podemos ajudar. Acredite também.