Educar com Amor e Disciplina
Como comunicar com aqueles que amamos…
Quando os filhos aparecem na nossa vida… não trazem “manual de instruções”.
E há momentos, como o que agora estamos particularmente a viver, em que ficamos surpreendidos com o comportamento dos filhos que nos pareciam mais calmos do que o que agora mostram ser, compreendendo também como difícil é a vida dos professores e educadores que, muitas vezes, passam mais tempo que nós com os filhos que não conhecíamos tão agitados ou irrequietos.
Criança não é adulto… e, em boa verdade, os adultos também têm dentro de si uma “criança interior” que, muitas vezes e em contextos pouco securizantes ou ameaçadores como o que vivemos hoje, também faz birras, amua, se revolta, desobedece às normas e tem comportamentos pouco adequados ao que o momento e o contexto social exigem.
E damos por nós a pensar: Porquê? Porque está isto a acontecer?
No entanto, em termos comportamentais, a pergunta certa não é porquê… A pergunta certa, perante comportamentos fora da regra ou norma, é para quê? Para que é que a criança (incluindo a nossa criança interior) grita, desobedece, desarruma, se isola, agride ou faz/diz coisas que nos tiram do sério?
A resposta imediata que agora me ocorre é: Talvez a criança (incluindo a nossa criança interior) faça tudo isso para se proteger…
A ciência do comportamento diz-nos que nunca é o que acontece que nos faz sentir ou agir de modo adequado ou não adequado… No ABC do comportamento, quando acontece alguma coisa nós pensamos (Belief/Crença) algo sobre o que está a acontecer (o que observamos ou ouvimos) e, de seguida, a consequência é uma emoção (boa ou má) ou uma ação (boa ou má) da nossa parte. Aquilo que sentimos ou fazemos (C) não depende do que aconteceu (A) mas sim do que acreditamos (B) ou pensamos sobre o que aconteceu. E o que nós pensamos, nós podemos mudar…
E o que aconteceu (de bem ou de mal) já aconteceu… é passado… e já não se pode mudar… Mas podemos mudar as nossas crenças, o que pensamos sobre o que aconteceu ou está a acontecer e, com isso, podemos mudar o que queremos sentir ou fazer perante situações complicadas e que nos parecem fugir do controlo pessoal. Do ponto de vista psicológico, todo o comportamento (bom ou mau, adequado ou disruptivo) tem uma intenção positiva para o sujeito/pessoa que o manifesta.
Todos falhamos, todos erramos e, quando isso acontece connosco, podemos compreender melhor que não o fazemos propositadamente (caso contrário isso não seria uma falha) e, muitas vezes, só percebemos que falhámos depois de observarmos as consequências dos nossos atos. Se pudéssemos voltar atrás no tempo, a cada um dos momentos da nossa vida em que falhámos (fizemos ou dissemos algo de que agora nos arrependemos), sabendo só o que sabíamos nessa altura e nas mesmas circunstâncias em que tudo aconteceu, iríamos certamente fazer o mesmo que fizemos então.
Por isso, uma coisa é o comportamento da pessoa (criança, adolescente ou adulto) e outra coisa é a intenção da pessoa que manifesta esse comportamento. Uma pessoa (criança, adolescente ou adulto) que desobedece, mente, rouba, desarruma, desrespeita, agride, se isola ou até se auto agride ou manifesta comportamentos inadequados ou disruptivos tem uma razão para isso. E essa razão (a funcionalidade do comportamento) tem de ser respeitada. Deste ponto de vista, não há ladrões, mas tão-só pessoas que estão a roubar (roubos), não há mentirosos, mas sim mentiras, não há desobedientes, mas sim desobediências…
Se me permitissem definir as regras do bom comportamento, em vez dos extensos regulamentos internos das escolas ou outras instituições (como a família) onde nos dizem o que não devemos fazer, eu proporia apenas três regras, definindo-as pela positiva (dizendo aquilo que devemos fazer): Respeito (por pessoas e bens), Ordem/limpeza (deixar as coisas/espaços que usámos como os encontrámos) e Sossego (tranquilidade e sossego nos locais onde estamos). E para ensinar às crianças (incluindo a nossa criança interior) estas três regras (genéricas), o mais eficaz e eficiente é utilizarmos estratégias de disciplina positiva ou, como diz o Professor Paulo Oom no seu fantástico livro “Não te Volto a Dizer”
(https://www.wook.pt/livro/nao-te-volto-a-dizer-paulo-oom/17333972 ), “educar com
amor e disciplina”.
A ideia é permitir à criança (incluindo a nossa criança interior) que tenha oportunidade de ter o comportamento certo, o comportamento que queremos que ela tenha (o que ela faça) em vez de punir ou castigar o comportamento errado (o que queremos que ela não faça).
E, para isso, podemos usar algumas estratégias de disciplina positiva simples, bem como utilizar algumas “técnicas”, pequenos truques de comunicação que ajudam a criança a fazer o que é preciso sem se sentir julgada nem criticada como pessoa mas percebendo que apenas e só precisa de mudar o seu comportamento sem ter de mudar a sua personalidade… como são as propostas por Thomas Phelan no seu livro incrível e muito premiado, “1 – 2 – 3 Magia” (https://www.wook.pt/pesquisa/Thomas+Phelan)