O Jardim do Nós
Era uma vez um jardim escondido entre duas colinas, onde ninguém ia sem um propósito claro de cuidar e apreciar a natureza. Esse jardim era especial, pois cada planta ali tinha um espaço próprio para crescer e florescer, mas todas compartilhavam da mesma luz, do mesmo ar fresco e do mesmo amor pelo solo em que viviam. As flores que ali viviam tinham personalidades distintas — umas mais delicadas, outras mais robustas, mas todas contribuíam para a beleza única daquele lugar.
No coração desse jardim, cresceram lado a lado duas flores muito especiais. Eram diferentes uma da outra em cor e forma, mas ambas compartilhavam a mesma paixão pela vida. Uma era vibrante e extrovertida, com pétalas que se abriam para receber cada raio de sol, enquanto a outra era mais reservada e serena, guardando a sua beleza de forma subtil, preferindo a sombra e a brisa fresca que passava pela manhã.
Ao longo do tempo, essas duas flores criaram entre si um laço especial. Embora estivessem próximas, cada uma mantinha o seu espaço para crescer e ser o que era. No silêncio do amanhecer, compartilhavam a sensação de pertença, sabendo que, mesmo sem palavras, havia algo profundo que as unia. Esse “nós” que criaram entre si era como uma terceira presença no jardim, um vínculo invisível, mas tangível, que era mais do que a soma do “eu” e do “tu”.
As outras flores do jardim notavam esse laço, admiradas pela harmonia que aquelas duas flores emanavam. Uma vez, uma das flores vizinhas perguntou: “Como é que vocês conseguem manter um amor tão puro, sem invadir o espaço uma da outra?”
E a flor extrovertida respondeu: “Nós percebemos que o verdadeiro amor é ser cuidador e não dono. Amamos o que a outra é, sem tentar arrancar-lhe as raízes para enfeitar os nossos próprios vasos.”
A flor mais reservada disse então: “eixamos que cada uma floresça à sua maneira, respeitando o que somos e o que precisamos para viver. É esse respeito, esse cuidado silencioso, que cria entre nós o jardim onde o amor cresce. O jardim do NÓS”
Os dias iam passando, as estações do ano iam mudando e o jardim permanecia, cada vez mais vivo e colorido. Por vezes surgiam tempestades e ventos fortes, mas as duas flores, apoiadas na força invisível do “NÓS”, mantinham-se firmes. E foi assim que, ano após ano, continuaram a florescer lado a lado, mostrando a todos que passavam por aquele jardim que o amor verdadeiro não precisa de sufocar ou de prender — simplesmente precisa de um espaço para crescer em liberdade e harmonia.
E assim, aquele jardim, marcado pelo amor e respeito entre as duas flores, tornou-se uma lenda entre os campos vizinhos. Diziam que quem olhasse bem ao fundo das colinas poderia ver, entre as sombras e a luz, o laço invisível que as unia, um “NÓS” que continuava a florescer, geração após geração, como o símbolo eterno do amor que respeita e liberta.
Amar é sentir um enorme prazer por simplesmente ver e muito mais por fazer alguém feliz!
(Celso Oliveira, Nov/2024)