O Lago da Mente: Uma Metáfora para a Cura e a Transformação
Era uma vez uma nascente cristalina que brotava das profundezas da terra, cheia de potencial para se tornar um lago de águas puras e vivas. Essa nascente tinha duas origens: uma vinha de uma corrente suave e rica em nutrientes, representando o contributo da mãe, e a outra era um fluxo forte e cheio de histórias e experiências de terras distantes, simbolizando o contributo do pai. Quando essas duas correntes se encontraram, formaram uma pequena lagoa, protegida por uma caverna chamada “útero”. Ali, longe do vento e da luz, o lago cresceu e moldou-se.
Enquanto o lago se formava, recebia tanto partículas nutritivas como pequenas impurezas trazidas pelas águas das duas correntes. Algumas dessas impurezas eram quase invisíveis, mas já se acumulavam no fundo, criando uma base complexa — uma mistura de fertilidade e sedimentos. Cada corrente trouxe consigo não apenas vida, mas também as marcas das suas origens, influenciando o lago desde o início. Quando a caverna finalmente se abriu para o mundo, o lago estava pronto para receber o ar, o sol e a chuva. Esse momento era crucial: sem o oxigénio do ar e a luz do sol, o lago não sobreviveria.
Com o passar dos anos, o lago cresceu, expandiu as suas margens e acolheu mais águas de diferentes fontes: tempestades, ribeiros e até mesmo a água da chuva que caía das nuvens da vida. Contudo, à medida que o lago se enchia, também acumulava mais sedimentos no fundo — restos de folhas, areias trazidas pelo vento e partículas de lama que vinham de enxurradas inesperadas. Apesar disso, à superfície, a água permanecia cristalina, refletindo a luz do dia e dando a impressão de calma e pureza.
Um dia, algo ou alguém decidiu mexer no fundo do lago. Talvez fosse uma tempestade, ou quem sabe um animal que mergulhou fundo demais. Quando isso aconteceu, os sedimentos que estavam pacificamente depositados no fundo subiram, transformando a água, antes límpida, num turbilhão turvo e desconfortável. O lago parecia perturbado, como se tivesse perdido a sua serenidade.
Alguns observadores sugeriram despejar químicos na água para clareá-la rapidamente, mas outros sabiam que isso apenas mascararia o problema. A verdadeira solução seria entrar no lago, limpar os sedimentos manualmente, mesmo que isso significasse perturbar a água ainda mais por algum tempo. Esse processo exigia coragem e paciência, pois seria necessário mexer em cada canto do fundo, separar o que era útil do que não era, e deixar o tempo e a natureza fazerem o resto.
Enquanto o lago era limpo, parecia mais caótico, mas, aos poucos, as águas começaram a clarear de forma genuína. Não apenas a superfície voltou a refletir o céu azul, mas também o fundo ficou mais leve, permitindo que a luz atravessasse até as profundezas. O lago, agora renovado, continuava a acolher novas águas, mas sabia que, de vez em quando, seria necessário limpar novamente os sedimentos que a vida inevitavelmente traria.
Assim é a jornada do ser humano: o lago é a nossa mente, as correntes representam o contributo do pai e da mãe, os sedimentos são as memórias e traumas, e o processo de limpeza é a psicoterapia — um mergulho profundo que pode causar turbulência, mas que, com paciência, traz a verdadeira clareza e serenidade.